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São Tiago, o Justo – Apóstolo e irmão de São João, o Teólogo († 42) , 30 de Abril


São Tiago, o irmão do Senhor, o Apóstolo Divino, foi o primeiro bispo de Jerusalém. Sua origem era a Judéia, e era filho de José, o Desposado. Homem piedoso e de fé inquebrantável, além de outras virtudes, Tiago, o Justo, recebeu assim, merecidamente, o codinome de «irmão do Senhor». Como já foi dito, era um dos filhos de José com sua primeira mulher, Salomé. Sendo já de avançada idade e viúvo, José desposou a Maria, virgem antes e depois do nascimento de seu filho. Tiago recebeu primeiro o nome de Joblián, que em hebraico significa «justo», pois ainda criança mostrou ter autodomínio sobre todos os seus sentidos, o que era realmente extraordinário. Seu olhar era dirigido apenas para as coisas boas e lhe foi concedida a misericórdia divina. Seus ouvidos se abriam às santas leituras e sua boca se regozijava com a lei. Estava sempre pronto à caridade e sentia simpatia por todos. Tiago, o Justo, foi o primeiro escolhido por nosso Salvador e pelos apóstolos para o episcopado da Igreja de Jerusalém. Era adornado com todas as virtudes, em especial, porém, destacam-se duas: a capacidade de guiar os homens à perfeição, tanto na teoria como na prática; era tanto humilde como moderado. Corrigia os que afirmavam que o pecado é natural ao homem, pois estava a dizer, assim, que Deus é o autor do mal. Como um excelente médico, curou a estes insensatos com estas palavras: «Ninguém, quando for tentado, diga: É Deus quem me tenta. Deus é inacessível ao mal e não tenta a ninguém. Cada um é tentado pela sua própria concupiscência, que o atrai e alicia» [Tg 1,13-14].

Ensinava-lhes que Deus não era a causa das enfermidades humanas e lhes advertiu a reconhecerem a própria indolência e fraqueza, a serem humildes e pedirem perdão. Também afirmava que sem a graça divina, somos incapazes de fazer uma coisa boa, pois «toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm do alto, do Pai das luzes» [Tg 1,17] Ele Instava a todos a praticar a caridade para com os mais necessitados, a fim de encontrar a misericórdia do juiz na hora do Juízo, e assinalava: «Pois, haverá juízo sem misericórdia para aquele que não usou de misericórdia. A misericórdia triunfa sobre o julgamento» [Tg 2,13].

Afirmava ainda que somente a fé não beneficia aqueles que não guardam os mandamentos de Deus, porque sem obras, são considerados mortos, como se o corpo estivesse morto e sem vida. Sobre este ponto, diz: «Queres ver, ó homem vão, como a fé sem obras é estéril?» [Tg 2,20] .

Também ensinava aos homens a refrear as palavras, a evitar proferir mentiras, palavras em vão, insultos ou julgamentos, mas principalmente, para afastar-se do falso testemunho que é muito prejudicial para a alma. O homem, dizia ele, não deve jurar nem pelo céu nem pela terra, nem por qualquer coisa criada. Estes e muitos outros doces ensinamentos nos vieram da boca do Apóstolo Tiago, bispo e irmão de nosso Senhor, através de sua epístola.

Todos os apóstolos veneravam Tiago e consideravam a sua palavra como lei. Sua opinião prevaleceu em diversas situações nos Atos dos Apóstolos, como na questão de saber se era ou não necessário circuncidar aos gentios. Quando os apóstolos e anciãos se reuniram para debater sobre este tema, Tiago disse-lhes, uma vez que já haviam falado Pedro, Paulo e Barnabé: Portanto, julgo que não se deve perturbar aqueles, dentre os gentios, que se convertem a Deus. Mas escrever-lhes que se abstenham das contaminações dos ídolos, da prostituição, do que é sufocado e do sangue». [At 15, 19-20]. Sua voz e seu voto teve grande valor, pois os Apóstolos veneravam este Apóstolo acima de todos. Para demonstrar ainda mais sua proeminência entre eles, São Paulo foi com os outros Apóstolos encontrar-se com Tiago, quando os anciãos estavam presentes, para declarar as coisas que Deus operara entre os gentios através de seu ministério; e logo, glorificaram a Deus.

Na verdade, alguns chegaram a crer graças à pregação de Tiago e aceitaram suas justas palavras da verdade. Alguns membros das várias seitas, no entanto, permaneciam contra ele e o consideravam equivocado, pois não acreditam na ressurreição, ou que todos seriam recompensados por suas boas ações. Houve então um grande murmúrio entre os fariseus e os escribas, convencidos de que estavam diante de um perigo de que todos acreditassem em Cristo. Foram então ao encontro de Tiago e disseram: «Nós te pedimos, oh Justo, que ensines as pessoas, pois se afastaram do caminho e crêem em Jesus, afirmando que ele é o Cristo. Então, na festa da Páscoa, quando todos estiverem reunidos, procure convencê-los para que não sejam enganados por um simples homem. Nós te imploramos que realizes esta boa ação, pois todos nós te reconhecemos que és um homem justo e imparcial. Por isso te pedimos, para que subas ao parapeito do templo, onde todos facilmente te verão e ouvirão tuas justas palavras de instrução».

Na festa da Páscoa, todas as tribos se reuniram, havendo ali, inclusive, cristãos. Foi então que os mentirosos e embusteiros, acreditando que Tiago compartilhasse de suas crenças, o fizeram parar sobre o parapeito do templo, e para que todos os presentes ouvissem, clamaram em alta voz: «Como todos nós te aceitamos, oh Justo, diga-nos: o que achas de Jesus, que foi crucificado por Pilatos, e que depois disso as pessoas se afastaram do caminho, acreditando que ele é o Cristo e, até mesmo, que ele é Deus? Explica-nos isto e proclama a verdade!» Quando chegou o momento de dizer a verdade contra os falsos, Tiago não retrocedeu por temer a morte nem aceitou negar a verdade, mas, contrariamente às expectativas daqueles, levantou a voz, e com espontâneo espírito e palavra, respondeu:

«Por que me perguntais sobre Jesus? Ele está sentado no céu à direita de seu Pai, com os poderes celestiais, e voltará nas nuvens do céu para julgar o mundo com justiça». Tendo testemunhado isto, muitos se convenceram e exclamaram: «Hosana ao Filho de Davi !» Mas os obcecados fariseus e escribas se queixaram de que haviam permitido a Tiago dirigir sua palavra ao público, pois que não tinha proclamado o que pretendiam. Cheios de cólera, se dirigiram à multidão, dizendo: «Até mesmo o Justo se afastou do caminho». Em seguida, foram para o parapeito e o agarraram como bestas selvagens, atirando-o ao chão, mas o bem-aventurado sobreviveu. Começaram então a apedrejá-lo. Mas o Santo recebeu as pedras em silêncio e, como se fosse um precioso tesouro, se ajoelhou e orou: «Senhor Deus e Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem».

Então, um dos agressores tomou um bastão usado para bater na lona, e golpeou fortemente a cabeça de Tiago que, não resistindo, o Justo entregou seu espírito a Deus. Seu corpo foi sepultado próximo do santuário. Após sua morte, foi nomeado bispo Simeão, o filho de seu tio Cléofas, porque era primo do Senhor e por um desejo unânime de que ele deveria ser o próximo bispo.

Após a morte de Tiago, muitos judeus consideravam que as calamidades que se abateram sobre eles foram conseqüência da violenta morte deste justo homem; pois, no ano 67 dC., Vespasiano tomou Jerusalém de assalto. Assim conclui esta narração, porque Flavius Josephus registrou os acontecimentos subseqüentes em seus escritos.

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