Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.
Digníssimas autoridades religiosas, civis e diplomáticas aqui presentes,
Meu querido irmão no Episcopado, Dom Romanós,
Excelentíssimo Cônsul da Síria, Sr. Elias Bara,
Excelentíssimo Cônsul do Líbano, Sr. Kabalan Frangie,
Reverendo Cônego José Bizon, representante do Cardeal-Arcebispo de São Paulo, Dom Odilo Scherer,
Reverendos Padres,
Ilustríssimos Senhores Conselheiros,
Amados fiéis em Cristo,
Prezados amigos.
Senhoras e Senhores.
Nesta Santa Missa que hoje celebramos, unidos em nome de Jesus Cristo, a comunidade ortodoxa antioquina em São Paulo alegra-se pela ocorrência de três importantes eventos:
- o primeiro, ligado diretamente à comunidade Homsie, lembrando-nos do padroeiro da cidade de Homs, a terra de seus pais e avós;
- o segundo, a ordenação de um novo Sacerdote, um Padre, que tem dedicado e dedicará a vida ao serviço de Deus e sua Igreja, através de nossa comunidade ortodoxa antioquina em São Paulo, o Diácono Pedro Henrique.
É tripla, então, a razão de nossa alegria hoje, pois no dia 6 de fevereiro a Igreja Ortodoxa Antioquina celebra a memória do grande mártir e médico Santo Elian de Homs e pede sua intercessão, especialmente para a cura das enfermidades.
O Santo não morre, mas sim continua sua vida com Deus, desaparece deste mundo terreno e passa a viver no mundo da santidade. Por isso, desde o quarto século até nossos dias Santo Elian opera muitos milagres, curando os enfermos, tanto cristãos como não-cristãos e sua memória vive dentro dos corações e mentes daqueles que nele creem.
Cada vez que celebramos Santo Elian, meditando sobre as etapas de sua vida, vemos que ela é uma importante lição e exemplo que fortalece a fé dos cristãos através dos séculos, mostrando o amor ilimitado que cada fiel deve dedicar a Jesus, nosso Salvador.
Não vamos hoje contar sua história, pois, junto com o Club Homs, preparamos um folheto à parte, junto com nosso folheto dominical, narrando os principais fatos da vida deste santo e desejamos que todos o levem consigo, para leitura e meditação juntamente com seus familiares.
Há um provérbio árabe que diz: “quem esquece suas origens não tem origem", e conhecer um pouco sobre Santo Elian de Homs é aprender sobre as origens de parte de nosso povo e de nossa fé.
Agradecemos, nesta ocasião, à diretoria do Club Homs, pela nobre iniciativa de celebrar anualmente a memória deste grande santo. Que Santo Elian interceda por eles a nosso Deus para que tenham êxito nas atividades do Club.
Nesta celebração, juntamente com todos os membros do Club, lembramo-nos de nossos saudosos pais e avós, de todos que vieram daquela cidade, rogando por suas almas, pois eles muito trabalharam para a fundação do Club Homs e outros, para que o mesmo fosse, primeiramente, um ponto de união das famílias Homsies e de toda a comunidade árabe, de modo a continuarem ligados à pátria-mãe, à terra onde nasceram muitos santos e mártires, imperadores e grandes líderes, dentre os quais brilha o forte testemunho do cavaleiro de Cristo, Santo Elian, el Homsi, grande dentre os mártires.
Essa imagem do cavaleiro de Cristo nos faz lembrar as palavras de São João Crisóstomo, autor da Divina Liturgia, que utilizou-se dessa figura em relação ao Sacerdote e sua posição na Igreja.
Hoje fomos duplamente abençoados com a descida do Espírito Santo: sobre os santos dons do pão e do vinho, para transformá-los no Corpo e no Sangue de Jesus Cristo, e sobre o Diácono Pedro Henrique, para que receba a graça divina para o exercício do Sacerdócio.
O que distingue o Sacerdote, o Padre, é exatamente a graça do Espírito Santo, que ele recebe pela imposição das mãos do Bispo, Sucessor dos santos Apóstolos de Cristo. Nesta celebração o então Diácono Pedro Henrique, agora Padre Pedro, recebeu essa graça, dedicando sua vida ao serviço de Deus no santo altar e ao povo de Deus.
Tendo ordenado hoje um novo Padre, podemos nos perguntar:
Quem é o Padre? Quem é o Sacerdote?
E todos precisam e devem conhecer a resposta a esta pergunta.
Para nós, ortodoxos, como ensina a Santa Igreja, os Santos Padres, o Sacerdote é, primeiramente e de certa forma, a causa da santificação dos fiéis, pois é por ele que a graça de Deus vem sobre eles.
São as mãos do Sacerdote, que beijamos, que nos ministram o Corpo e o Sangue de Cristo que nos alimentam para a vida eterna, pois, sem termos Cristo, não podemos ter a vida verdadeira, como ensina o evangelista São João, relatando as palavras de Jesus: "Quem come meu corpo e bebe meu sangue tem a vida eterna."
Em segundo lugar, para dizer quem é o Sacerdote, queremos usar uma expressão que pode nos parecer muito estranha, mas que foi usada pelos Santos Padres, como São João Crisóstomo, e, na Igreja do Ocidente, por São Francisco de Assis, que disseram que o Padre é "o cavalo de Cristo", de Deus.
Com isso o que se queria dizer é que Deus vem até nós através do Padre, como que transportado, carregado por ele, pois, no passado, o único meio de transporte existente era o cavalo.
O Padre é, então, aquele que transporta Deus, e é ele quem nos gera espiritualmente, para que nos tornemos filhos do Céu, filhos de Deus, quando nos batiza em nome da Santíssima Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo.
É somente pelo Padre que podemos ser crismados, confirmados na fé pelo Espírito Santo, recebendo seus dons, e tornando-nos discípulos de Cristo. O Padre é o pai que ajuda seus filhos espirituais, os fiéis, consolando-os nos tempos de tristeza e participando de suas alegrias. O Padre, seja quem for, é um anjo de Deus na terra.
Citamos novamente São Francisco de Assis, para resumir nosso pensamento a respeito e falar da dignidade do Sacerdote. Disse ele: "Se eu encontrar um Padre e um anjo caminhando juntos, ajoelharei-me primeiramente diante do Padre e tomarei sua bênção, e depois me ajoelharei diante do anjo para saudá-lo, pois os anjos não podem transformar o pão e o vinho no Corpo e no Sangue do Senhor, enquanto ao Sacerdote foi dada a graça de o fazer."
A Igreja ensina que quando beijamos a mão do Padre, estamos beijando a mão que toca Cristo, que leva Cristo, mão que abençoa em nome do Senhor, mão que é santificada por tocar em tudo aquilo que nos santifica.
Devemos sentir-nos santificados ao beijar a mão do Sacerdote, pois é grande a bênção do Padre para nós, para os fiéis, e nada se iguala a ela. Por isso a Igreja não sobrevive sem Padres, pois é pelo Padre que Deus envia sua bênção e graça.
E isto acontece independentemente da dignidade pessoal do Sacerdote, pois nenhum homem na terra é digno de ter o próprio Cristo em suas mãos, mas a humildade do Senhor Jesus nos tornou capazes de ministrar esses sacramentos.
O sacerdócio não é simplesmente uma função, mas um manto celeste bordado pela graça do Espírito Santo, com o qual é revestido o Sacerdote.
Quando nós hoje, no Rito de Ordenação, com a imposição das mãos do Bispo sobre a cabeça do ordenando, rogamos que o Espírito Santo descesse sobre ele, tornando-o Sacerdote, fica claro que o Espírito Santo não habita somente no coração e na mente do Padre, mas em todo o seu ser, santificando-o.
Reverendo Padre Pedro,
Certamente o caminho de um Sacerdote não é fácil e muitos não o desejam ou não conseguem andar por ele, mas aquele que tem em Jesus, o Sumo Sacerdote, seu exemplo inspirador não procura outro caminho, não murmura nem se queixa da Cruz de Cristo, nosso Deus, pois ele é o caminho, a verdade e a vida.
Dizemos isso a um novo Padre porque o Sacerdócio é grandioso, mais elevado que o ofício dos próprios anjos, e é difícil e fácil ao mesmo tempo.
É difícil se o Padre não depende de Deus, não sente a presença de Cristo junto dele, mas fácil quando o Padre tem em si o amor de seu Mestre, Jesus Cristo, pois é dele que recebemos forças para desempenhar a missão sacerdotal.
Você recebeu hoje uma grande graça, e tornou-se, de uma maneira muito especial, discípulo de Cristo na terra, ligado a seus fiéis, onde quer que estejam.
Você não deve temer as dificuldades, pois a força para que você exerça a missão sagrada do sacerdócio vem do próprio Deus, ao qual você deve amar cada vez mais, abrindo sempre espaço em seu coração, para que ele nele habite, pois assim você o transmitirá aos corações dos fiéis.
Seu papel, entre outros, para usar a expressão dos Santos Padres, é ser, na comunidade cristã, um veículo de Deus, tê-lo em você e levá-lo aos filhos espirituais.
Que você seja também o "cavalo" de Santo Elian, el Homsi, cuja memória hoje celebramos, transportando a cura e o bem para os filhos de Deus, defendendo, com sua firme fé, a fé de todos os cristãos deste século.
Nós lhe outorgamos o nome de Padre Pedro desejando que você tome o grande apóstolo São Pedro como exemplo para sua vida sacerdotal. Que ele o abençoe e interceda por ti.
Deus o abençoe.
Finalmente, parabenizamos o novo Padre, seus familiares e amigos, seus irmãos no Sacerdócio, membros de nossa família clerical, desejando-lhe, com a bênção de Deus, todo êxito em sua nova e tão elevada função.
Parabenizamos igualmente todos os membros da comunidade Homsie e aqueles que tem o nome de Santo Elian, e, igualmente, os atuais presidentes e demais membros das mesas diretoras do Club Homs, rogando em favor de todos, saúde, forças e paz, com a bênção de Deus, desejando que o nome glorioso do Club Homs se eleve cada vez mais, com muitas realizações.
E não nos esqueçamos, nestes dias tão difíceis para os nossos parentes e amigos em Homs, e para os sírios em geral, de rezar por eles e por aquela terra abençoada pelo martírio de Santo Elian e de outros santos, para que Deus afaste deles as nuvens escuras e lhes conceda vida digna e paz.
E que ele tenha em sua paz os ali falecidos.
Queremos ainda aproveitar esta ocasião abençoada e festiva para prestar uma justa homenagem a um irmão e amigo dos ortodoxos, um Sacerdote que muito trabalha e se esforça pela causa da união dos cristãos, o nosso querido Cônego José Bizon, aqui presente.
Ele é o assessor de ecumenismo da Arquidioces católica romana de São Paulo e diretor da Casa da Reconciliação, e tem estado conosco em várias ocasiões, especialmente nas celebrações ecumênicas aqui realizadas, e em todas as atividades do MOFIC, Movimento de Fraternidade de Igrejas cristãs, do qual nossa Igreja é membro.
Ele é um dos coordenadores do MOFIC, juntamente com nosso Padre Gregório, e tem organizado, inclusive, cursos de formação para o diálogo entre os cristãos e outras atividades e estudos.
Como mostra de nosso apreço por ele queremos ofertar-lhe uma cruz peitoral, fazendo-o "stavrofóros", o "portador da cruz", para que sempre encontre forças e luz na Cruz de Cristo, seu Mestre, para sua vida, especialmente seu sacerdócio dedicado à comunhão entre os cristãos das várias Igrejas e tradições.
Deus o abençoe.
E ofertamos-lhe, também, um ícone de Santo Elian, que hoje comemoramos, para que, por sua intercessão, o Cônego Bizon receba muitas bênçãos de Deus.
Aproveitando ainda esta tripla celebração, queremos oferecer também à esposa do novo Padre, a "Curie" Maria Clara, um ícone de Santo Elian de Homs, para que seja uma bênção para seu lar e sua vida ao lado do Padre Pedro.
Finalmente, mais uma vez agradecemos a todos que participaram conosco desta celebração, desejando-lhes muita saúde e prosperidade neste ano de 2014, com a graça de Deus.
Deus os abençoe.
Dom Damaskinos Mansour
Arcebispo Metropolitano
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