Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
Amém.
Querido irmão no Episcopado, Dom Romanós,
Reverendos Padres,
Digníssimas autoridades religiosas, diplomáticas e civis em geral,
Ilustríssimos senhores e senhoras representantes de entidades e clubes,
Ilustríssimos senhores membros do Conselho de nossa Arquidiocese,
Excelentíssimo Dr. Ghassan Obeid, digníssimo Cônsul Geral da República Árabe Síria em São Paulo, nosso homenageado,
Queridos filhos e filhas em Jesus Cristo,
Senhoras e senhores.
O trecho do Santo Evangelho lido nesta Santa Missa fala do significado da verdadeira fé, fé que jorra dos corações humildes. Fala do centurião romano que se aproximou de Jesus e pediu-lhe a cura de seu criado e o que nos chama a atenção é a maneira como este pedido foi feito, pois veio da grande fé daquele homem.
Colocando-se diante de Jesus, ele ignorou sua própria posição e autoridade, pois acreditava no poder e autoridade de Jesus, a quem se dirigiu com humildade, dizendo:
“Senhor, eu não sou digno de que entres sob meu teto, mas dize uma só palavra e meu criado ficará bom”.
Estas palavras, vindas de um romano, um pagão, causaram admiração em Jesus, pois a fé que ele manifestou não havia sido encontrada pelo Senhor entre os de seu povo e entre seus discípulos, por isso lhe disse diretamente:
“Vai e seja feito conforme acreditaste”. E o Evangelho nos diz que seu criado ficou curado naquele momento.
Queridos,
Aprendemos com este trecho do Santo Evangelho que a Palavra de Deus é ativa, criadora, que a Palavra de Deus, como ensinam as Sagradas Escrituras, sempre tem o sentido de ação divina, não apenas de palavras, pois a Palavra de Deus não é como a do ser humano.
Deus fala e algo acontece, pois sua palavra é, realmente, palavra viva, criadora. Por isso as multidões criam em Jesus e o seguiam, porque ele falava e realizava, suas palavras eram poderosas.
Assim, aprendemos que a fé do ser humano deve basear-se no encontro de sua vontade com a vontade de Deus, por isso Jesus sempre perguntava às pessoas: “Crês que posso fazer isso?”
Podemos concluir, então, que a fé é o receptor que absorve as ondas do poder divino, e é por esta razão que dizemos que os atos de Deus entre os homens dependem, às vezes, da fé e vontade deles.
Como já destacamos, a fé verdadeira, correta, que Jesus elogiou, foi a do centurião quando ele disse: “Senhor, eu não sou digno de que entres sob meu teto, mas dize uma só palavra e meu criado ficará bom.”
Este é, então, o sentido da verdadeira fé, a fé acompanhada da humildade, o sentimento no homem de que ele não merece, é indigno, e a confissão de que Deus é a única fonte de verdadeira felicidade e do bem, como rezamos ao final da Divina Liturgia:
“Toda excelente dádiva e dom perfeito vem do alto, procedente de ti, ó Pai das luzes...”
É para exercermos a fé dessa forma que a Igreja nos convida hoje através do Evangelho, apresentando a humildade daquele centurião como a base e princípio de sua fé.
A partir deste princípio da humildade, quero falar sobre o acontecimento que motiva hoje nossas orações e homenagens de maneira especial, que é a despedida do querido Dr. Ghassan Obeid, Cônsul Geral da República Árabe Síria em São Paulo.
Sabemos que Deus deu a ele muitos dons, mas ele se distingue especialmente por sua humildade e simplicidade, o que faz com que ele seja próximo de todos sem distinção.
Celebramos esta Santa Missa por este amigo querido, não somente por ser ele o Cônsul da Síria, o país de nossos antepassados, mas porque durante sua estada no Brasil, exercendo funções diplomáticas, prestou destacado serviço em todos os setores.
Ele nunca apresentou-se como superior do seu povo, mas como um deles, e, a mais bela de suas características, não fugia de suas responsabilidades patrióticas e humanas, antes, ao contrário, as procurava, com grande e contínuo esforço para servir as pessoas.
Sempre agiu com amor e paciência, o que nos fez vê-lo, muitas vezes, como um Sacerdote, que, de boa vontade e por iniciativa própria, se consagrou ao serviço de Deus através do homem, sem distinção de cor, religião ou nacionalidade.
O exercício sincero da diplomacia se compara, desta forma, ao Sacerdócio, pois nas duas funções se destaca o serviço ao ser humano; na diplomacia, através do serviço à pátria-mãe, e no Sacerdócio, através da Igreja-mãe.
Sim, a preocupação maior do Dr. Ghassan Obeid, em todo o período que esteve no Brasil, do qual está se despedindo, é prestar serviço ao próximo, e disso temos muitos exemplos, dos quais não vamos falar agora para não constrangê-lo.
Para ele servir é natural, pois isto foi colocado por Deus em seu coração e em sua consciência, por isso queremos dizer a ele e aos que são como ele:
Deus, que conhece os segredos dos corações, abrirá diante de vocês um futuro melhor, com melhores e maiores posições, e certamente ouvirão as palavras do Senhor a lhes dizer: “Muito bem, servo bom e fiel; já que foste fiel no pouco, eu te confiarei muito. Vem alegrar-te com teu Senhor”. Esta é a maior recompensa de Deus para os homens sinceros, um testemunho divino incomparável a seu favor. Sim, querido Ghassan, O senhor amou todos e todos o amaram, amaram sua humildade, seu trabalho contínuo, seu carinho por todos, e sabemos que todos desejam que o senhor fique conosco, especialmente nós, sua pequena família desta Igreja, assim como sua família maior, os filhos da comunidade sírio-libanesa, mas todos sabemos que assim é a natureza do trabalho diplomático, prestando serviço à pátria e seus filhos onde estiverem neste mundo. Nestes últimos dois anos no Brasil, todos testemunharam seu esforço e importante papel em mostrar a verdade dos tristes acontecimentos na Síria. O senhor foi muito fiel à sua pátria e sincero em sua mensagem diplomática, e suportou a distância de sua família: esposa, filhos, mãe e irmãos por muitos anos, e sabemos que isso não foi fácil. E enquanto isso trabalhava com sinceridade e honestidade por sua grande família, a Síria e seu povo, os quais, infelizmente, vivem nestes dias uma situação muito difícil, precisando do nosso apoio. Por isso tudo, querido Ghassan, nós sempre nos lembraremos do senhor como um homem bom e de bem, lembrados de todo o seu sacrifício nos vários níveis e setores de sua atuação, e estaremos rezando para que Deus o recompense e faça com que sua caminhada seja coroada pelo sucesso onde o senhor estiver.
O senhor vai estar longe de nós fisicamente, mas queremos que se lembre sempre de que mora nos corações de muitos aqui, os quais, igualmente, estão em seu coração. Seu nome e sua lembrança continuarão nos pensamentos de todos que receberam sua visita e de todos que o conheceram em Brasília, em São Paulo, e em todos os lugares em que esteve neste país. Este é nosso testemunho a seu respeito, juntamente com nossas orações feitas em seu favor neste dia, nesta casa santa, e quero, finalmente, em meu próprio nome, de nosso Clero e de toda a nossa família espiritual, pedir a Deus que o santifique e à sua querida família em Damasco, para que recebam sempre a bênção divina. E tudo isso queremos que seja simbolizado no ícone que lhe ofertamos, para que seja força e vigor em todas as novas etapas à sua frente.
Deus o abençoe. Deus abençoe a todos.
Dom Damaskinos Mansour
Arcebispo Metropolitano
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